Saturday, August 28, 2010

Todos querem a lavanda


Sempre me perguntam sobre os campos de lavanda da Provence. Em 2008, publiquei duas fotos no antigo fotoblog do Terra (post #500 e #494). Meses mais tarde, imprimi fotos dos campos e as coloquei nos meus álbuns de fotografias. Certamente, estão entre as fotos preferidas dos leitores. Há quem prefira os campos de girassóis, porém esses são bem mais comuns.

Para quem quiser conhecer os campos de lavanda, indico, além da Provence, as regiões da Ardèche e Drôme. A época é muito bem definida: Meados de junho até o começo de agosto. Em 2007, cheguei ao campo mais famoso da França no dia 16/8, sendo que a última data de corte da lavanda é 15/8. Por isso, voltei em 2008, 2009 e 2010!

Depois de algumas passagens pela Provence, em julho último, fiz um bate e volta até três lugares muito especiais: L'Isle-sur-la-Sorgue, Gordes e a Abadia de Sénanque. Passar um domingão por lá é privilégio de quem mora em Lyon. Usei o TGV para encurtar a viagem. Fiz Lyon-Avignon de trem e o resto de carro.

As fotos desta jornada Provence-bis ilustrarão os próximos posts.


Foto: Começo com a vista do núcleo de Gordes a partir da estrada. Na minha primeira visita à cidade, uma foto como essa exigiria uma certa ginástica. Três anos depois, alargaram o trecho que dá acesso a cidade, permitindo que estacionemos o veículo e nos deslumbremos com o cenário. De fato, em 2007, a minha tomada da cidade não foi muito feliz.

Sunday, August 22, 2010

Boulangerie

A panificação francesa já recebeu um post neste blog. Escrevi que a venda de sanduíches de baguete supera o Mc Donalds local. Além do sanduíche da hora do almoço, tem aquela baguete para ser compartilhada pela família na hora do jantar.

A tradição de se levar a baguete para casa após o trabalho ainda está muito viva. Tem aqueles que fazem questão de colocá-la encaixada entre os braços. Tem outros que preferem carregá-la na pasta ou bolsa. Com o pão à altura da boca, muitos não resistem e começam a mordiscá-la ainda na rua ou no metrô.

Curiosidades à parte, a "boulangerie" é uma das marcas registradas da França. Eu e meus colegas brasileiros adoramos brioches, baguetes, croissants, etc. Com certeza, é parte da explicação do meu sobrepeso, adquirido nos últimos anos.

E por falar em boulangerie, o telejornal da TF1 - equivalente ao Jornal Nacional - fez uma matéria sobre o sucesso do empreendimento de Olivier Anquier no Brasil. Segundo eles, tão popular quanto o samba (!).


Foto: Templo de Augusto e Lívia (20-10 AC) em Vienne, no Departamento de Isère. A cidade é famosa pelo seu festival de Jazz anual, que se realiza no teatro romano.

Thursday, August 19, 2010

Deportados

Eu sei que muitos leitores deste blog estão surpresos com a provável eleição da Dilma, ainda no primeiro turno. Eu apostei neste cenário no começo do ano, quando ela ainda encostava no Serra. Divergências à parte, respeitemos as urnas. Estou muito mais incomodado com os últimos acontecimentos da França.

Refiro-me à deportação em massa dos ciganos radicados na França. A polícia começou a desmantelar seus acampamentos e embarcá-los para Romênia e Bulgária. Tudo com uma delicadeza do tipo Gestapo. Nesse assunto, confesso que errei. Não escrevi antes, pois achei que a ação seria interrompida. Acreditei que fosse apenas uma encenação macabra do sarcástico presidente. Como metade da população francesa aprova a medida, Sarkô - movido à urna - não teve dúvidas. Vai amealhar votos da extrema direita e ainda abafar as notícias ruins sobre a economia e os escândalos de corrupção.

A França foi o país que exportou os ideais de democracia e igualdade para o Ocidente. Ela jogou tudo no lixo durante a Segunda Guerra, ao deportar os judeus para a Alemanha. Depois de algumas poucas décadas e muitas promessas de que isso jamais se repetiria, lá estão eles dizendo que existem franceses mais franceses do que os outros, deportando os ciganos sem piedade. Dois comentários: 1) Hoje, não existe nenhum Hitler ameaçando Sarkô; 2) A Europa unificada derrubou as fronteiras entre os seus países membros e os ciganos já estão por lá há séculos.

Muita gente está indignada na França e na Europa. Há inúmeras pessoas e ONGs salvando ciganos. Sarkô, que se declara um bom católico, possui vários vínculos familiares com a comunidade judaica. Poderia ter mais noção do que está fazendo. Que todas as minorias fiquem alertas.


Foto: Visitando os Châteaux de Isère, não pude deixar de passar mais uma vez em Vienne, uma das primeiras cidades que conheci na França. Acima, o seu Hôtel de Ville.

Tuesday, August 17, 2010

Guerra 2.0

Obama quer chamar seus homens de volta. A notícia é boa. Principalmente, para Bin Laden e seus asseclas.

Depois dos bilhões gastos no Iraque e no Afeganistão, a situação ainda está muito longe da ideal. Pior ainda, o embate contra milícias islâmicas, espalha-se pelo Iêmen, Somália e, muito provavelmente, por vários países africanos. A África, ícone da nossa indiferença face à desgraça alheia, é um terreno ainda mais fértil para a proliferação desta grande guerra de guerrilhas do século XXI.

Uma coisa está clara: As guerras convencionais estão descartadas. Poucos estadistas ocidentais têm respaldo para tal, inclusive Obama. Daqui para frente, os meios serão mais sofisticados: Aviões não pilotados, patrulhas de elite e muitas ações de inteligência.

A preferência por esse tipo de atuação parece ser majoritária no Ocidente. Acho que deveríamos ter começado assim há muito tempo. Agora é um pouco tarde. A nova estratégia tem suas limitações:

1) A ação inteligente pode ser mais eficiente, porém não suficiente. Impossível cobrir todo o território onde prolifera a jihad, da Ásia à África.

2) Rambo só existe no cinema. Pequenos contingentes são vulneráveis, podem ser cercados ou emboscados. Os inimigos estão prontos para morrer pela causa.

3) 007 também só existe no cinema. Acreditem se quiser, o Paquistão - que joga descaradamente dos dois lados - é um dos países mais "confiáveis". Imaginem os demais.

Enfim, estancaremos as hemorragias dos dois lados, mas continuaremos a sangrar. Vamos empurrar o problema com a barriga até que, um dia, possamos combater as causas da doença e não os seus sintomas.


Foto: Outro castelo do Departamento de Isère, o Château de Longpra. A aparência atual vem da última reforma no século XVIII. O castelo pertence à família Franclieu desde 1536.

Saturday, August 14, 2010

Atalhos

Depois de três anos e meio, voltei a dirigir em São Paulo. Nas minhas passagens anteriores pela capital paulista, usava táxi e dirigia muito pouco. Desta vez, foi diferente. Repeti o meu velho caminho de Higienópolis ao Centro Empresarial por duas semanas seguidas.

Como fazia antes da expatriação, escolho um caminho diferente todo dia. São Paulo fica menos monótona, pois cada dia eu encontro um gargalo diferente. Todas as quebradas e atalhos que usava até 2006 ainda estão por aí. Por dentro de Pinheiros, por dentro dos Jardins, do Itaim, do Campo Belo, do Morumbi, de Santo Amaro e assim por diante. A diferença é que mais alguns milhares de motoristas também estão usando os mesmos atalhos. Sem saída!

Nesse segundo semestre, passarei metade do tempo em São Paulo e metade na França. Poderei me recuperar.


Foto: O Château de Roussillon não tem nada de impressionante, mas a sua visita é interessante. O édito de Roussillon (1564), anunciado na passagem do Rei Charles IX pelo Château, instituiu o início do ano no dia primeiro de janeiro. Parece bobagem, mas não era evidente à época, quando as festividades variavam de dezembro a abril. Uma possível origem das piadas de primeiro de abril provém da associação da data ao ano novo em muitas partes do Ocidente. Trecho do édito em francês da época: " l'année commence doresénavant et soit comptée du premier jour de ce moys de janvier".

Tuesday, August 10, 2010

Ramadã

Amanhã, começa o Ramadã. Nos últimos anos, conheci inúmeros muçulmanos, entre eles, vários colegas de trabalho. A grande maioria da comunidade islâmica francesa está muito bem integrada aos padrões republicanos e laicos do país. Nem por isso, deixam de lado as suas tradições. 70% dos 5 milhões de muçulmanos franceses respeitam as regras religiosas impostas nesse período. Trata-se apenas de uma tradição, assim como cristãos e judeus têm as suas.

Entretanto, Ramadã em agosto, em pleno verão europeu, é um desafio à parte. Dá para ficar sem beber água o dia inteiro com o termômetro beirando os quarenta graus?

Não sei. De qualquer forma, em 1940, dois músicos brasileiros (Haroldo Lobo-Nássara) já diziam:
 
Alá-la-ô ô ô,
mas que calor ô ô.
Atravessando o deserto do Saara,
o sol estava quente
e queimou a nossa cara,
Alá-la-ô ô ô.

Viemos do Egito
e muitas vezes nós tivemos que rezar:
Alá, Alá Alá,
Meu bom Alá,
mande água para ioiô,
mande água para iaiá,
Alá, meu bom Alá...


Foto: Mais uma tomada do Château de Septème, em Isère.

Sunday, August 8, 2010

Camping


Comenta-se muito sobre o sucesso dos campings na França. Com o orçamento apertado, as famílias francesas buscam programas alternativos e deixam os seus estabelecimentos mais sofisticados para os endinheirados turistas estrangeiros. Além disso, os pacotes para as ex-colônias francesas são muito interesantes. Uma semana nas exóticas Ilhas Reunião sai bem mais em conta que uma passagem pela Côte d'Azur. Uma semana num Club Med tunisiano cabe no bolso de qualquer um.

O cinema e a mídia tem ajudado a amenizar o estigma do camping como alternativa turística muito popular (como se diz no Brasil, coisa de farofeiro). O filme "Camping", sucesso local de 2006, projetou o carismático comediante Franck Dubosc. Desde então, uma série de programas exploram a temática, sempre em torno do espírito de camaradagem entre aqueles dividem as suas férias num camping.

Fenômeno mais recente é a multiplicação dos campings '4 estrelas'. Nada de barracas ou trailers, mas longe dos serviços de um bom hotel. Com uma melhor infraestrutura e muito mais atividades de lazer, a classe média entrou de cabeça.



Fotos: Iniciando uma série de fotos oriundas dos meus passeios dominicais da última primavera, eis o Château de Septème, no Departamento de Isère. O castelo atual data do século XVI e está em ótimo estado de conservação. Trata-se de uma propriedade privada da família de Kergolay. O primeiro castelo do local é do século X. O nome Septème vem de Roma, pois o local era a sétima marca na ligação Milão-Vienne.



Friday, August 6, 2010

Gargalo

Assim como São Paulo, Lyon não concluiu seu rodoanel. Entretanto, há uma grande diferença entre a cidade francesa e a brasileira: O tamanho da frota. São Paulo tem mais veículos parados diariamente no rodízio do que aqueles que circulam em Lyon.

O maior problema do gargalo rodoviário gaulês fica para os parisienses, obrigados a passar por dentro de Lyon (Túnel da Fouvière), quando deslocam-se para a costa mediterrânea. Para o prefeito socialista de Lyon, esse não é um grande problema.

Um fato recente ilustra a gestão dos transportes na cidade. Nas próximas semanas, começa a circular o tramway que ligará o centro da cidade (Part-Dieu) ao seu aeroporto (Saint-Exupéry) em pouco menos de meia hora. A cidade não perdeu tempo. Mesmo antes de inaugurá-lo, impôs obstáculos aos motoristas. Uma avenida vital na ligação com o aeroporto perdeu faixas e um viaduto está sendo destruído. O caminho do bonde, uma nova ciclovia e uma calçada mais larga são prioritários. Os motoristas que se virem.

A abordagem de Lyon é correta. Antes de se pensar na punição aos condutores de automóveis, oferece-se alternativas.


Foto: Fechando a série de fotos da Alsácia, mais uma foto da área central de Colmar.