Friday, April 29, 2011

O casamento

Mais uma vez, as tradições da realeza mostraram-se mais fortes do que os poucos republicanos que se apresentaram nos últimos dias. Eles estão certos. O casamento real desperta um grande fascínio popular. Se eu fosse um republicano inglês, hibernaria até que William ou Kate pule a cerca.

Muitos comentaristas renomados escreveram palavras elogiosas à monarquia britânica. Há dois argumentos notórios para não esculachá-la: 1) O Reino Unido tem problemas estruturais muito mais importantes do que a família real. 2) A história recente mostra que não há diferenças relevantes entre as repúblicas e as monarquias. Enfim, em bom português, a realeza não fede nem cheira.

Justamente, por causa dessa indiferença, que eu fico com a opção republicana de igualdade entre todos os cidadãos, de uma sociedade na qual cada um pode aspirar à qualquer posição, inclusive a sua suprema liderança. A monarquia não faz mal à Inglaterra, mas o fim de todos os regimes hereditários do planeta faria um grande bem à humanidade. Vive la République!


Foto: Fim de tarde na área do canal de Nîmes (Quai de la Fontaine).

Monday, April 18, 2011

TAVendo? Nem eu...

Há poucos meses, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 proporcionariam aos brasileiros uma infinidade de melhorias: Trem bala, novos aeroportos e, obviamente, novos estádios.

Pouco depois, o governo reconhecia que o TAV (trem de alta velocidade) não ficaria pronto para os grandes eventos esportivos. Mais recentemente, o governo deixou claro que os aeroportos receberão apenas melhorias cosméticas. Resta saber se, pelo menos, teremos os estádios.

Não seria um fato inédito, pois na Copa de 1950, o Maracanã inacabado sediou a histórica final. O estádio carioca foi terminado completamente apenas em 1965.

Enquanto o governo ainda tenta fazer o TAV de qualquer jeito, só nos resta rir. Aí vai uma dúzia de maneiras para se referir ao projeto:

01 - Trem fantasma
02 - Trem bala de festim
03 - Não trem jeito!
04 - Trem mutreta
05 - Trenzinho caipira
06 - Tem Alguma Viabilidade?
07 - Ta Altamente Viciado
08 - TAVamos sonhando
09 - TAVendo? Nem eu
10 - TAVariado!
11 - TAV pensando que era de verdade?
12 - TAVe Maria!


Foto: O Palácio de Justiça de Nîmes, em foto noturna.


PS: Entre os meus posts mais lidos dos últimos meses estão "Sobre homens e deuses 1" e "Sobre homens e deuses 2". Para aqueles que gostaram, saibam que o filme "Homens e Deuses" já está em cartaz em São Paulo. Estarei em viagem por alguns dias. Bons feriados a todos!

Saturday, April 16, 2011

Rankings

Na última semana, foi publicado o relatório global sobre a tecnologia da informação (TI) 2010-2011. O destaque da publicação é o ranking do "Networked Readiness Index", que coloca o Brasil na 56ª posição.

Global Information Technology Report 2011 (clíque aqui para obter o relatório) O Brasil está na página 178.

O relatório é editado pelo Fórum Econômico Mundial, que também publica o estudo de competitividade global, com o seu ranking do "Global Competitiveness Index", onde o Brasil apresenta-se na 58ª posição.

Global Competitiveness Report 2011 (clíque aqui para obter o relatório) O Brasil está na página 106.

Os dois rankings têm muitos fatores em comum, daí muitos países ocuparem posições próximas em ambos. Um terço do indicador da TI global é baseado na competitividade (environment component). Um terço é específico de TI (usage component). O outro terço é uma combinação de fatores ligados à educação, P&D e TI.

O ranking de competitividade global também inclui fatores ligados à TI. Enfim, há uma grande sobreposição entre ambos.

Vejamos como se chega à 56ª posição do Brasil, através da classificação do país em cada um dos sub grupos:

1 - Environment component - 66
1.1 - Market environment - 93
1.2 - Political and regulatory environment - 64
1.3 - Infrastructure environment - 63
2 - Readiness component - 59
2.1 - Individual readiness - 110
2.2 - Business readiness - 41
2.3 - Government readiness - 56
3 - Usage component - 52
3.1 - Individual usage - 64
3.2 - Business usage - 37
3.3 - Government usage - 48

O ambiente para os negócios deixa a desejar (1), especialmente no que tange ao mercado em si (1.1). Tributação elevada e inadequada, tempo e complexidade para se iniciar um negócio e o peso do aparato legal estão entre os fatores que explicam a nossa 93ª posição.

O componente da prontidão (2) poderia ser melhor se não fosse o legado de um longo déficit educacional. Isto explica o péssimo ranking de prontidão individual (2.1). Outro inibidor deste fator é elevado custo das tarifas telefônicas (fixas e móveis).

Os dois melhores resultados vem do mundo privado (2.2 e 3.2). Isso, a gente já sabia. Muitas empresas atingiram um nível de excelência operacional e administrativa apesar de todas as ineficiências que as cercam.



Foto: O prédio do Carré d'Art (Museu de Arte Contemporânea de Nîmes) fica diante da Maison Carré. Para poder "competir" com a jóia romana, só mesmo um projeto de Norman Foster. Acima, o museu fotografado da Maison Carré. Abaixo, a Maison Carré fotografada a partir do terraço do museu, onde existe um bom restaurante.


Sunday, April 10, 2011

Lata de sardinha

Ainda no capítulo do transporte público, o Brasil foi agraciado com mais um título na última semana. O metrô paulistano foi considerado o mais lotado do mundo, com 11,5 milhões de passageiros por quilômetro de linha.

Para nosso desespero, o troféu lata de sardinha deve ficar nas nossas mãos por muito tempo. Nas linhas mais antigas do metrô paulistano, só nos restam ganhos marginais para diminuir alguns segundos entre um carro e outro. Não duvido que tenhamos que importar soluções de outros países, como aquele pessoal que empurra os passageiros para dentro dos vagões - com luvas, é claro - ou vagões dedicados às mulheres.

Nos famigerados horários de pico, os metrôs são cheios em todo mundo. Caso contrário, seria desperdício de recursos (os políticos diriam que se trata de visão de futuro). Mas, tudo tem limite. O horário de pico do metrô paulistano está ficando cada vez maior. Basta um pequeno problema e o caos é instaurado.

Muitos especialistas recomendam desviar o dinheiro que seria gasto no trem bala, carinhosamente apelidado de trem fantasma, para melhorar o transporte público em São Paulo. Seja com esse dinheiro ou não, melhor fazer alguma coisa, pois a cidade está ficando impraticável. Com carros parados e metrô no limite de segurança e conforto, quaisquer alternativas são cosméticas: Bondes, bicicletas, monotrilhos e até Segways.

Melhor começar a esburacar a cidade o quanto antes. Nós não veremos uma São Paulo com um bom sistema de transporte, mas temos que deixar uma cidade viável para as próximas gerações.


Ranking metroviário:

Lotação (milhões de passageiros por quilômetro de linha)
1) São Paulo - 11,5
2) Moscou - 8,6
3) Xangai - 7,0

Movimento (bilhões de viagens)
1) Tóquio - 3,2
2) Moscou - 2,4
3) Seul - 2,0
11) São Paulo - 1,0

Extensão (quilômetros de linha)
1) Xangai - 425
2) Londres - 402
3) Nova York - 337
41) São Paulo - 71 (Que vergonha!)



Fotos: A Maison Carré de Nîmes, talvez o templo romano mais bem preservado do mundo, data de 16 aC. Estive por lá em março de 2011 (acima) e em agosto de 2007 (abaixo). Nota-se que ela passou por um ciclo de restauração neste período.



Saturday, April 2, 2011

Sobre girópodes e quadrúpedes

Imagino que o leitor já tenha visto um Segway no Brasil ou no exterior. Clíque aqui, caso não o conheça. Trata-se de um meio de transporte bastante inovador, que tem atraído cada vez mais indivíduos e empresas. No início, eram tão poucos que poderiam ser ignorados pelas autoridades públicas. Na medida em que se tornam mais numerosos, não há como ignorá-los.

O que inspira este post não é o Segway em si, mas como ele foi recebido pelas autoridades públicas em dois países. As primeiras reações das autoridades brasileiras e francesas são diametralmente opostas.

Do ponto de vista linguístico, ambos os países escolheram uma forma para evitar a menção da marca comercial Segway. A França usa "gyropode". O Brasil prefere "equipamentos de mobilidade individual autopropelidos". Mas, vamos ao que importa:

No Brasil, o Contran estabeleceu que os equipamentos de mobilidade individual autopropelidos não podem circular nas vias. São permitidos apenas nas calçadas.

Na França, um representante da prefeitura de Lyon declarou: "Uma coisa é certa, esses equipamentos não podem ser usados nas calçadas, reservadas aos pedestres".

Enfim, duas visões de mundo: A carrocêntrica e a antropocêntrica.



Foto: Uma outra tomada da arena de Nîmes, a partir do Boulevard Victor Hugo. A seguir, dois sites sobre o local:

Como centro de touradas: http://www.arenesdenimes.com/