Saturday, May 11, 2013

O crime da semana


Há tempos, queria fazer um post sobre criminalidade. Já falei bastante sobre crimes do colarinho branco no Brasil e na França. Porém, nunca escrevi sobre nossos homicidas comuns, aqueles que ceifam a vida de mais de 40 mil conterrâneos a cada ano. Então, vamos lá.

Já nos acostumamos ao "crime da semana". Invariavelmente, temos um evento semanal, que recebe todas as atenções, pois, de alguma forma, ultrapassa a linha vermelha. Esse limite parece residir em dois aspectos, brutalidade e localização. O conceito de brutalidade é evidente. O aspecto geográfico é menos óbvio e mais cruel. Quanto mais perto das áreas nobres, mais grave.

Excepcionalmente, importamos algum crime, que nos faz esquecer do nosso "crime da semana". E, ainda pior, dos outros 40 mil assassinatos que acontecem no Brasil.

Mesmo tendo passado por um histórico período de prosperidade, não houve qualquer progresso nos índices de violência brasileiros. Houve variações internas: melhorou no sudeste e piorou no nordeste. Para mim, é muito claro que a criminalidade não está associada à pobreza em si. Talvez, à sensação de desigualdade, e, com certeza, à falência do sistema policial, judiciário e prisional.

Na onda do "crime da semana", às vezes, nossa sociedade acena com medidas cosméticas. Só bobagens. Até quando? Por que não resolver a questão da segurança pública? Por que tolerar índices de homicídios tão altos?

Acredito que muitos políticos já fizeram a conta e concluíram que não vale à pena abraçar essa causa (e ainda ser taxado de reacionário!). O "crime da semana" não é suficiente para mobilizar a sociedade, ou seja, o grupo de pessoas tocadas diretamente pelas dezenas de eventos anuais não forma uma massa crítica para tal mobilização.

Ainda existem outros 40 mil assassinatos que acontecem nas favelas, morros e área menos favorecidas. But, who cares? Se, algum dia, o Brasil for um país realmente desenvolvido, talvez nossa geração seja vista como genocida.


Foto: A rua junto ao muro de Saint-Paul de Vence

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