Saturday, November 14, 2015

Terror

Estou em Paris desde quinta e ficarei até segunda. Ontem, preparava-me para dormir quando soube da barbárie. Se alguém acha que a França vacilou com a segurança, errou. Desde janeiro, o país está sob alerta. Infelizmente, contra a covardia do terrorismo, não há muito o que fazer.

Com o estado de emergência decretado e vigilância por toda a parte, estamos mais seguros. Por quanto tempo? Manter esse aparato nas ruas é insustentável. Melhor seria atacar as causas do terrorismo, doa a quem doer.

O atentado foi assumido pelo Estado Islâmico. Porém, colocar toda a culpa nesses assassinos bárbaros é uma grande manipulação, daquelas típicas do George Bush. Ontem foi a al-Qaeda, hoje é o Estado Islâmico e amanhã haverá uma outra associação qualquer para fazer o terror em nome de Alá.

No plano externo, quando se trata de Oriente Médio, há um festival de hipocrisia. Todo mundo faz jogo duplo e o interesse econômico prevalece. Ninguém quer mexer com seus aliados endinheirados e financiadores do terrorismo: Arábia Saudita, Irã, Qatar e Emirados Árabes. Sem contar a Turquia, que não tem petrodólares, mas tem a mesma cara de pau.

O vacilão do François Hollande promoveu uma intervenção tardia na Síria, jogando mais bombas na areia do que qualquer outra coisa. Ele pode até fazer um discurso bonito, mas não abre mão de vender um A380 para a Emirates.

Entre todos os governantes europeus hipócritas, melhor ficar com o Putin, que assume que é mesmo um canalha, ao colocar seu exército para defender Damasco.

O plano externo ficou extremamente complexo após a tomada de posição da Rússia. Há algumas semanas, uma publicação francesa anunciava a Terceira Guerra Mundial. Exagerado ou não, é ilustrativo.

O plano interno é ainda pior. Mesmo que a Europa esteja longe de uma desigualdade social como a brasileira, há algo de podre no ar. A estagnação econômica e a dificuldade de integração dos imigrantes e seus descendentes estão entre os problemas mais conhecidos.

Quando milhares de pessoas oriundas das periferias das capitais europeias deixam seus países para juntar-se ao Estado Islâmico, fica difícil apontar apenas para o inimigo externo. O mal está aqui dentro.

E o que diremos daqueles que nem nasceram muçulmanos e também aderiram à causa? Foram à Arábia para matar, degolar, estuprar, esquartejar e enforcar. Nada contra uma coalizão para combater os lunáticos do Estado Islâmico, mas não nos esqueçamos que a nossa sociedade também está doente.

Que todas as vítimas descansem em paz. Estamos com Paris!



Foto: Em homenagem a Paris, uma foto da sua prefeitura tirada em julho último.

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